O puja no lar conecta a família com as Divindades, proporcionando proteção, uma vida correta e espiritualidade compartilhada.
por Satguru Bodhinatha Veylanswami
Uma prática que a maioria das religiões do mundo compartilha é ter um sacerdote ou ministro ordenado conduzindo um serviço religioso, em um local de culto que os membros leigos da fé frequentam. Nas religiões ocidentais (abraâmicas), isso ocorre na sexta-feira, sábado ou domingo. Nas religiões orientais, não há um dia da semana universalmente aceito no qual os adeptos realizam o culto.
No Hinduísmo, os sacerdotes são ordenados através de uma iniciação, chamada diksha, e geralmente realizam um culto ritual, chamado puja, todos os dias em um templo, às vezes várias vezes ao dia. Como explicado em nosso léxico Hindu: “Puja, o culto de um murti através da água, luzes e flores em templos e santuários, é a contraparte agâmica do rito védico yajna, no qual as oferendas são transmitidas através do fogo sagrado – homa. Estas são as duas grandes correntes de culto e comunhão no Hinduísmo, extraídas dos dois vultosos compêndios de escrituras reveladas do Hinduísmo – os Vedas e os Agamas.”
O puja realizado em templos, muitas vezes de natureza complexa, é chamado de parartha puja, o que significa que é feito para o benefício dos outros, para aqueles que frequentam, mas também para o mundo em geral, para a humanidade. No Hinduísmo, dois dias populares para os fiéis frequentarem essas pujas do templo são segunda e sexta-feira. No entanto, em áreas urbanas, muitos Hindus frequentam um templo no domingo, pois é um dia de folga e, portanto, mais conveniente do que os dias de semana.
O que é diferente no Hinduísmo é que um culto significativo também ocorre em casa, idealmente todo os dias. Comumente conduzido pelo esposo, às vezes pelo filho mais velho, é chamado de atmartha puja, que significa puja feito para si mesmo. Até mesmo os sacerdotes realizam diariamente atmartha puja em suas próprias casas. O Karana Agama explica: “Somente um sacerdote bem qualificado pode realizar tanto o atmartha puja, adoração para si mesmo, quanto o parartha puja, adoração para os outros”. O Agama também diz: “A adoração de um Linga, escolhido por qualquer pessoa em sua própria casa para proteção divina, é chamada de atmartha puja”. Em outras palavras, no Hinduísmo é tradicional que um homem de família funcione como um sacerdote leigo em sua própria casa.
Há um excelente testemunho sobre o puja no lar na introdução da publicação “Living with Siva”, da Himalayan Academy. “Cada família Hindu em nossa aldeia tinha um santuário em casa onde os membros da família adoravam seus Deuses. Até os mais pobres reservam um lugar para isso. Rituais são celebrações periódicas de caráter religioso e espiritual, e abordam os sentimentos internos e não externos. Tais pujas e rituais dão ao indivíduo a chance de parar, olhar para dentro e se concentrar em algo mais significativo, mais profundo, do que o mero materialismo e a fadiga diária da vida. O culto e regozijo em nome de Deus, jejum e observância de dias especiais permitem que as pessoas olhem além da vida cotidiana para um esquema maior das coisas. Nas melhores casas que conheço, o pai realiza os ritos diariamente, e a família se une e ajuda. Acho que é como o velho ditado: ‘A família que reza unida, permanece unida’. Mesmo na movimentada correria do dia a dia da vida em cidades cosmopolitas como Mumbai ou Los Angeles, há muitos Hindus que realizam pelo menos um mini puja diariamente. Eles afirmam que mesmo um pequeno ritual de alguns minutos por dia faz com que eles se concentrem, se sintam elevados espiritualmente, mantendo suas mentes sob controle e permitindo-lhes ter um melhor desempenho em seu ramo de trabalho.”
A sala em que esse culto ocorre é chamada de santuário do lar. O ideal é que seja uma sala separada para este propósito. Quando isso não é possível, uma parte de um cômodo que seja menos movimentado do que as outras áreas da casa pode ser usado. Meu guru, Sivaya Subramuniyaswami, deu esta descrição do santuário do lar ideal: “Todo Saivita mantém um santuário do lar. É o cômodo mais bonito da casa, uma extensão do templo, a morada para Deidades e devas, e um refúgio sagrado para o culto e meditação diários. Todos os Hindus têm devas guardiões que vivem no plano astral e guiam, guardam e protegem suas vidas.
“Os grandes Mahadevas no templo que os devotos frequentam, enviam seus embaixadores devas para as casas para viver com os devotos. Um quarto é reservado para esses hóspedes permanentes invisíveis, um quarto em que toda a família pode entrar e sentar-se e comungar interiormente com esses seres refinados que se dedicam a proteger a família geração após geração. Alguns deles são seus próprios ancestrais. Um santuário simbólico em um quarto ou um armário ou um nicho em uma cozinha não é suficiente para atrair essas Divindades. Não se hospeda um convidado de honra no armário ou se dorme na cozinha e se espera que o hóspede se sinta bem-vindo, apreciado, amado. Todos os Hindus são ensinados desde a infância que o hóspede é Deus, e eles tratam qualquer hóspede como um rei que os vem visitar. Os Hindus também tratam Deus como Deus e os devas como Deuses quando passam a viver permanentemente no seu lar. A sala do santuário é meticulosamente cuidada e não é usada para outros fins que não adoração, oração, estudo das escrituras e meditação. Por meio desses ritos sagrados e das energias divinas invocadas, cada família faz de sua casa um santuário sagrado, um refúgio das preocupações e problemas do mundo. Pujas podem ser tão simples quanto acender uma lâmpada e oferecer uma flor aos pés sagrados do Senhor; ou podem ser elaborados e detalhados, com muitos cantos e oferendas. A parte indispensável de qualquer puja é a devoção.”
Um ponto que Gurudeva frequentemente enfatizou é que o santuário do lar é uma extensão do templo. Esse pode ser o caso quando a família frequenta um templo regularmente, pelo menos uma vez por semana. Essa regularidade une o templo e o santuário do lar nos mundos interiores. Existe uma prática específica dada por Gurudeva para construir essa conexão. A primeira coisa que você fazer ao voltar do templo é acender uma lâmpada de óleo em sua sala do santuário. Isso traz os devas que estavam no templo diretamente para o seu santuário pessoal, onde eles podem abençoar os membros da família e tornar o campo de força religiosa do lar mais forte.
Uma pergunta importante a ser respondida é: “Todos os Hindus estão qualificados para realizar o puja em sua casa?” Como podemos ver na seguinte citação de um reverenciado pontífice de Kanchi Pitham, depende do tipo de puja. “Toda família deve realizar puja para Ishvara. Aqueles que acham conveniente fazê-lo podem conduzir tipos elaborados de puja depois de receber a iniciação adequada. Outros precisam realizar apenas um breve puja, não durando mais do que dez minutos no máximo. Os que trabalham em escritório devem oferecer pelo menos este breve culto. O sino sagrado deve tocar em todos os lares” (Sri Chandrasekharendra Saraswathi Mahaswamiji, 1894-1994). O Shankaracharya portanto, aconselhou que a realização de pujas elaborados requer iniciação. Para certos pujas simples, a iniciação não é obrigatória.
Aqui no Aadheenam de Kauai, desenvolvemos um simples puja do lar para o Senhor Ganesha, que não requer iniciação. Ele pode ser baixado em: www.himalayanacademy.com/looklisten/chanting. A página dá esta descrição e sugestões sobre o aprendizado do puja: “Os cantos deste Ganesha puja simplificado estão em sânscrito, a antiga língua das escrituras do Hinduísmo. O tempo gasto dominando a pronúncia é tempo bem investido. Idealmente, o treinamento é recebido pessoalmente de um sacerdote, especialista ou outra pessoa proficiente em sânscrito, para que você possa cantar os versos corretamente. Esse professor geralmente começará ensinando o alfabeto e oferecerá treinamento em leitura na escrita Devanagari, bem como a transliteração, para ajudar os alunos de outra língua. Aprender sânscrito não é obrigatório, e para aqueles que não têm um professor, temos uma gravação de voz de todo esse puja para que possam aprender os mantras corretamente.”
Em conclusão, no Hinduísmo frequentar regularmente o templo uma vez por semana é uma prática importante, mas não a prática completa. A outra parte igualmente importante, é ter um quarto santuário na casa, no qual o marido realiza um atmartha puja diário. Com o tempo, esse puja diário aumenta constantemente a vibração religiosa dentro do lar, o que beneficia todos os membros da família e os ajuda a viver vidas mais pacíficas, saudáveis e bem-sucedidas.